Pokémon Go… Realidade com liberdade?

Por Érico Fumero

Quem pensa que um jogo é só um jogo está enganado. O Pokémon Go é um aplicativo para móbile que tem levado milhões de pessoas às ruas pelo mundo afora, agora inclusive no Brasil, para capturar monstrinhos do mundo virtual inseridos no mundo real. Se essas pessoas fossem apenas crianças seria interessante, mas totalmente compreensível. Acontece que são milhões de adultos que passaram a perambular por aí errantes, vidrados em seus celulares, colecionando bichinhos virtuais tentado recriar a infância ou dando vida à criança que carrega dentro de si.

Pokémon Go é um fenômeno pop que só faz sucesso porque responde à profundos e arcaicos anseios humanos. A realidade que acreditamos conhecer, ela mesma não nos basta. O sucesso com milhões de adultos revela que somos seres lúdicos, não apenas durante a infância. E sempre foi assim.

Criamos cultura pela imaginação. Não vivemos apenas na natureza. Desde a revolução cognitiva há 70 ou 40 mil anos, a natureza não basta aos seres humanos. Inventamos mundos nos quais podemos habitar. Esses mundos geralmente não aparecem como uma simples fantasia escapista, mas configuram uma verdadeira reinterpretação da própria existência. Assim agregamos informações à realidade natural, criando um mundo híbrido, no qual se entremeiam e se mixam natureza e humanidade. Desde modo, inventamos arte, mitos, religiões, filosofias, ciências, e aparatos tecnológicos dos mais avançados que nos permitem existir e “estar-aí”.

Já o jogo Pokémon Go fruto da tecnologia produz uma realidade virtual padronizada e massificada, que se materializa graças a um programa de computador que se processa num dispositivo eletrônico portátil. O mundo real que ele nos mostra é um mapa de GPS, é o mapa do Google. É o mundo plano, sem diferenças, acaçapado. O mundo da perspectiva de um satélite, totalmente indiferente as experiência humanas individuais e sociais. Não há liberdade, as rotas já estão esquadrinhadas e marcadas. O indivíduo é uma peça do jogo, não há mudanças. Não há aprendizagens, a não ser os nomes dos monstrinhos, que estão espalhados para serem acumulados. Pura ilusão com uma falsa percepção de liberdade e autonomia.

No entanto, mesma tecnologia presente nos jogos de realidade aumentada pode servir no campo da educação, usada como estratégia de novos métodos de ensino, principalmente com crianças com dificuldades de compreensão. Por exemplo, seria maravilhoso que numa aula de história o professor conduzisse os alunos a um cenário virtual no qual ele pudesse ver e ouvir os agentes das transformações sociais. Comparando posições políticas, sociais e ideológicas com o objetivo de ensinar e aprender.

pokemon go

Reconheço que as pessoas querem se divertir, afinal o mundo é muito pesado para não termos liberdade e autonomia de nos divertirmos um pouco com o que gostamos. Porém, um pouco de autocrítica é fundamental para que adultos não se infantilizem, nem alimentem uma obsessão quase ou totalmente patológica se “engajando” num mundo que não vai além de uma tela plano de celular. Sim, o mundo existe para ser derrubado e reconstruído, mas repito, não será pela tela do celular, por mais colorida que seja, que poderemos viver melhor num mundo de liberdade e igualdade..

Fonte: diariodaregiao.com.br

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